opinião

Histórias de Wladimir



Wladimir entrou na minha vida numa tarde de domingo, num banco do shopping, onde nos encontrávamos a observar a decoração de Natal, o ir e vir das pessoas trocando os presentes.

Comentamos sobre a beleza dos enfeites, o sentido do Natal, as crianças que andavam nos animais motorizados usando o gorro do PapaiNoel, sobre futebol, sobre escola, sobre os temas para casa que os pais não têm mais tempo de ajudarem seus filhos a fazer, e passamos para a perspectiva de futuro, pois, segundo ele, 2018 deveria ser muito melhor já que o 2017 tinha sido muito estressante. Tanto pelas questões político-econômicas do pais, quanto pela constante superação de bullying que experimentou, já que, para ele, por ser filho de uma negra e de um alemão, ter a pele muito branca, olhos azuis e cabelos loiros bem encaracolados, sofria com comentários, "brincadeiras" e piadas de mau gosto. Mas me contou que conseguiu superar tudo isto graças ao seu pai, que sempre insistiu em afirmar que ele é muito inteligente, bonito, prestativo, esforçado, estudioso, culto, que está fadado a fazer grandes coisas e que deixará o mundo muito melhor do que encontrou.

Eu acenei com a cabeça concordando, pois se o seu pai havia falado, quem era eu para discordar.

Wladimir tagarelou muito, me contou muitas coisas que fez no ano de 2017, relatou muitas historias que protagonizou, momentos dos esportes que praticou, das brincadeiras que ele participou, me fez rir e me emocionar particularmente com a que finalizou nosso papo, quando seus familiares saíram da loja e uma linda mulher o chamou para irem embora.

Seu último relato foi de um fato acontecido na tarde do dia anterior, quando andava pela cidade, e um cidadão bateu na traseira do carro onde ele estava confortavelmente sentado. A motorista saiu para verificar o dano ocorrido no seu carro e o infrator foi rude, grosseiro, desagradável e desrespeitoso. Wladimir, bem sério, me contou que desceu calmamente do carro, dirigiu-se até o homem e disse: por favor, não perturbe, respeite esta senhora que tem 74 anos, usa o carro para trabalhar e ficou abalada com sua batida. Com esta intervenção, o homem se calou, trocaram os cartões, o pai dele chegou, a situação se tranquilizou e eles foram para o shopping.

Nesse instante, Wladimir suspirou fundo, me olhou bem sério, e concluiu nossa conversa com a seguinte afirmação, o que me deixou perplexa: "Carmen, tu concordas comigo?" Eu tinha ou não tinha que fazer alguma coisa? Tentei responder, mas ele não me deu tempo para falar e completou calmamente a frase, assim: "Ela tem 74 anos, sempre me carrega... eu já lhe disse que em breve eu é que a levarei para todos os lados, ela é a minha avó! Carmen, eu não podia ficar quieto, pois, afinal de contas, sou um homem e, em dezembro, completei 9 anos."

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

A grande conversação Anterior

A grande conversação

Ano eleitoral Próximo

Ano eleitoral

Colunistas do Impresso